Rubber vai explodir sua cabeça

Posted by Sotark | Categoria:


Antes de começar, gostaria de fazer algumas perguntas a você.

No filme de Steven Spielberg, E.T., por que o extra- terrestre é marrom?
Em "O Pianista" de Polanski, se tocava piano tão bem, por que ele tinha que se esconder e viver como um mendigo?
Por que não enxergamos o ar que nos cerca?
Todas essas perguntas têm a mesma resposta.


Esaa vou revelar mais adiante, mas primeiro quero esclarecer novamente que minha intenção não é escrever uma crítica, mas sim compartilhar uma experiência, por isso, críticos, não me critiquem =P, e não sintam falta de pontos negativos. Neste blog, raramente falarei de algo que não recomendo, somente se for o caso de tentar evitar que vocês consumam lixos. Quando acontecer serei direto.

Pra começar, acho que a cena de abertura Rubber retrata como nenhuma outra, a proposta do filme. Vou descrever o que eu pensava enquanto assistia, então tentem imaginar a situação.

“Huuum...deserto...uma cadeira isolada no meio do nada... Muitas cadeiras no meio de uma estrada de terra, no em algum lugar do deserto...” (Até aqui não me esforcei pra entender o que estava acontecendo)
 “Um magricela vestindo roupa social e gravata, segura...hum...parecem ser algumas lentes (pouco depois percebi que eram binóculos)...Ele olha para o relógio como se esperasse alguma coisa..."
Novamente a estrada, com muitas cadeiras espalhadas... Mas agora por ela se aproxima um carro em baixa velocidade... Consigo ver que não há mais ninguém dentro dele se não o motorista...O veículo avança... parece propositalmente atropelar cada cadeira adiante... O carro para... O porta-malas abre e de seu interior sai um homem fardado de policial e no rosto, os tradicionais óculos escuros.. ele anda até a janela do carro, entrega seus óculos ao motorista, que em seguida lhe dá em troca um copo d'água...”
...
...
...
...

É, essa provavelmente também foi sua reação. Sua cabeça está infestada de perguntas, e você continua procurando uma explicação lógica pra tudo.
“Mas o que eram aquelas cadeiras? Por que o policial estava no porta-malas? Como ele o abriu por dentro? De onde motorista tirou aquele copo cheio d'água?

Não sou médico, psicólogo, nem tenho como comprovar o que irei dizer, mas se prestar atenção em algumas situações da vida, talvez você concorde comigo.
Nosso cérebro, tem uma mania incontrolável de tentar prever, baseando-se em experiências, os acontecimentos de uma situação. Isso, na minha opinião, está intrínseco na natureza humana, por questões primitivas, de sobrevivência mesmo. Este instinto pode tanto te ajudar, evitando um acidente ou a se safando mais facilmente de uma situação perigosa, quanto pode piorar as coisas, pois nem sempre seu cérebro vai acertar, não é mesmo?

Mas o que isto têm a ver com o filme? (Segure-se aí)
O que quero dizer:
Que é assim que são formados os temidos“clichês”, palavra utilizada principalmente no contexto do cinema, para se referir à alguma experiência repetida. Quando você está assistindo à um filme seu cérebro tenta adivinhar o vai acontecer a seguir, e quando acerta você pensa, ”clichê”.
Meu telefone é 555****
Os filmes, exercem uma grande influência sobre nossa maneira de pensar.(assim como tudo na vida, eu sei, mas você vai entender meu ponto de vista)
Não estou dizendo que são capazes de mudar a personalidade de um pacato cidadão e transforma- lo em psicopata, mas sim nos transferir experiências. Exemplo: você sabe que um tanque cheio gasolina não explodiria com um tiro, mas arriscaria tentar à uma distância menor que 50m? Tenho certeza que isso, você só viu no cinema.

Vou dar um exemplo de como a cena pode ter feito você pensar:
“Se esse cara estava no porta- malas, automaticamente deve ser uma vítima, um prisioneiro.
Não, pois ele mesmo o abriu e saiu por vontade própria.”.

Por que ele simplesmente não poderia, sem razão nenhuma, estar viajando assim, ao invés de simplesmente sentar no banco de passageiro? Pois Rubber, é exatamente isso. Você vai errar quase sempre.

Com o copo d'água na mão e olhando para o espectador, o policial questiona as perguntas que fiz no início do post.
 
Bom, ele faz mais algumas, mas não importa.
Como havia dito, todas têm a mesma resposta. E adivinhe qual é?
“No reason” (nenhuma razão).

Continua o discurso dizendo que, não só todos os grandes filmes contêm o elemento de “nenhuma razão”, mas nossa vida também está cheia dele. Completa dizendo: 
“Senhoras e senhores, o filme que irão assistir hoje é uma homenagem a esse importante elemento, esse estilo”. 
Ele inclina o copo para derramar toda a água no chão, se vira, entra novamente no porta- malas e parte.
Nos faz pensar: “Realmente, precisaria ter alguma razão?”

Ao abrir o enquadramento, percebemos que aquele discurso não era diretamente para nós, mas para os espectadores que lá estavam para assistir (esse era o uso para os binóculos) ao espetáculo, Rubber.
Após o magricela distribuir os binóculos, começa a “estória- principal”.
Robert é um pneu velho que ganha vida sem motivo, e da mesma forma, claro sem rasão, cultiva um gosto por matar. Isso mesmo, o pneu é um serial killer. Como se não bastasse, ele descobre ser capaz de explodir coisas (como cabeças humanas) através de poderes psicocinéticos, o que facilita muito sua vida de açougueiro.

Enquanto rola, vagando em busca de vítimas, o borrachudo se depara uma jovem, por quem desenvolve uma paixonite.(se começar a achar a trama sem sentido, lembre-se do principal elemento)
Os espectadores, personagens que apresentei antes, acompanham à distância e sempre estão lá, tentando prever o que vai acontecer, comentando, e como na vida real, se você está no cinema e alguém próximo começa a bater- papo, sua atenção muda de foco, do filme para o diálogo. Isso também acontece aqui. Vez ou outra o “filme- principal” é interrompido por uma piadinha ou comentário. Os observadores por si, já são representantes bizarros do “no reason”. Acontecimentos mais adiante na estória faram você perceber que na verdade, não há um “filme- principal”, tudo acontece em um mesmo universo.

Para mim é um filme recheado de metáforas, mas como saber?
O próprio filme te desarma de qualquer teoria sobre metáforas ou críticas sobre a vida, afinal, nada precisa ter motivo para estar ali.
O que penso é: Rubber critica os críticos que tentarem encontrar um porquê, critica a mim por desacreditar na ausência de segundas intenções, e criticará você.
Pois sempre que tentar formular alguma explicação, logo será desencorajado pelo elemento “no reason”.

Foi criado para ser exatamente isso, um filme, abusa e se orgulha disso.
Além de cumprir a promessa de fazer uma homenagem ao “no reason”, também homenageou o cinema e a mim, por me presentear com uma incrível criatividade, que me renderam boas gargalhadas(no bom sentido).
Imprevisível, Rubber é mais que uma estória bizarra sobre um pneu assassino. Muito mais do que consegui falar aqui. Não posso contar muito da trama sem soltar spoilers.
Algumas cenas tenho certeza que um dia se tornaram clássicas.
Quanto aos personagens, são perfeitos no carisma e personalidade, com atenção especial às interpretações de Stephen Spinella (que por nenhuma razão me lembrou da interpretação de Christoph Waltz. em Inglorious Basterds) e Jack Plotnick.
Este filme já pode entrar na lista dos mais criativos e originais.
Recomendo que assistam e voltem pra contar como foi a experiência. Para vocês, há alguma coisa no filme que não está ali sem motivo?

7 Comentários:

  1. Akatsu disse...:

    Como sempre, não há nada que o o Ocidente faça que já não tenha sido feito no Oriente.

    Tem um anime muito non-sense(como esse filme aí), que se passa numa escola de marginais. Um dos estudantes é um maluco com a cara do Freddie Mercury, outro é um Gorila e o pior de todos é um robô muito escroto(parece uma lata de lixo), que ninguem percebe que é um robô.]

    Durante o anime você também tenta prever o que vai acontecer, mas é impossivel. A cena mais doida que eu vi, foi um dos estutandes, careca, que foi revelar um segredo, que na verdade ele usava peruca... (OMG?!?!?!!)

    Ainda sim, vale a pena ver esse filme também, já que o mundo só conhece as coisas se for feito por americanos.

  1. Sotark disse...:

    O filme é falado em inglês mas é francês hehehehe falha minha não mencionar... Mas porra cara, ache o nome desse anime ai e me passe!
    Adoro coisas desse naipe =D

  1. Sotark disse...:

    E só pra constar não discordo em nada do que vc disse

  1. klebson disse...:

    e sotark o anime se chama Gintama
    em relação ao filme gostei gosto de filme louco

  1. Sotark disse...:

    Valeu cara, vale a pena ver o filme.

  1. Akatsu disse...:

    Não é Gintama não, apesar desse também ser meio non-sense. Mas o que eu falei é o Cromartie High School.
    (botei no google pra conferir se era esse mesmo o nome e vendo as fotos lembrei que a cara dos malucos é tudo igual uhauahauau)

  1. Sotark disse...:

    Legal, a olhada que dei no youtube me agradou, vou baixar ambos.

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